terça-feira, 9 de junho de 2015

Tubarão não voa

Charles Darwin dizia “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais inteligentes, e sim as mais suscetíveis a mudanças”, é nítido que o adaptar-se é de extremo valor para a sobrevivência, e não entenda com isso a sobrevivência da Idade da Pedra, onde atrás de cada árvore ou rocha uma fera espreitava a espera de alimento, o hoje exige que lancemos mão do nosso poder de mudança, não existem mais feras escondidas no escuro, não as que imaginamos, elas são agora mais sutis e arrisco dizer, mais mortais até.

O mundo está tão acelerado que não há mais tempo a perder, o que é novo agora já será velharia amanhã. Não há mais tempo para compreender as coisas e percebê-las em detalhes, somos atropelados por informações e mais informações o tempo inteiro e só conseguimos vislumbrar cada uma de forma ligeira e pouco precisa. Quando enfim estamos nos acostumado a uma nova forma de fazer ou manusear algo, e ficamos felizes com isso, vem uma nova forma de fazer e manusear e pronto! Estamos atrasados novamente. Esta vida exige que mudemos o tempo todo. Mas, e se eu não quiser mudar? E se eu não conseguir mudar?

Voltando ao início desta conversa, eu entendo o valor da adaptação e do quão importante ela foi para a perpetuação do homem, mas algo me incomoda nisso, será que estamos respeitando a nossa forma, o nosso “jeito de ser”? Acredito que não. Como dito anteriormente, nosso tempo não exige que enfrentemos uma fera no mato, mas existem outras feras a serem vencidas como o desejo de aceitação, o sucesso financeiro e pessoal. Não há mais espaço para o fracasso, errar tem se tornado um “crime” inafiançável, punido com a descrença e isolamento. Quando um erro é cometido perde-se tempo com isso e tempo é dinheiro.

Buscando desviar dos equívocos e viver dentro dos padrões enaltecidos e adorados de hoje, temos cada vez mais aberto mão de nós mesmos, de quem realmente somos para ser quem as pessoas esperam que sejamos. Cada característica, cada detalhe que lutamos para mudar em nós é um pedacinho arrancado. Vamos nos despedaçando e nos moldando de acordo com o que é bem visto pelos outros, isso não é viver para si!

Entendo que certas mudanças são necessárias para o nosso bem e de nossa comunidade, sem essas regras de convivência nós não seríamos diferentes de animais selvagens, além disso algumas modificações estéticas são divertidas, como mudar a cor e o tamanho do cabelo. O que me preocupa são as mudanças internas que tantas vezes fazemos, e vamos mudando tanto que deixamos de ser nós mesmos, perdemos nossa essência e abrimos mão de nós pelo outro. Isso sim é sério. Vamos desfigurando a nossa alma a fim de torná-la mais aceitável. Buscando novamente um exemplo na natureza, o tubarão é um animal esplêndido, forte, inteligente e reina soberano nos mares, mas ele não voa e diferente de nós ele aceita sua condição de peixe e não de ave. O que seria deles se arriscassem sair do mar para alçar voo. Parece bobo mas há uma riqueza nisso, mudar é importante, mas aceitar-se é essencial.

Gabriella Camargo.

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