Tubarão
não voa
Charles
Darwin dizia “Não são as espécies mais fortes que sobrevivem, nem as mais
inteligentes, e sim as mais suscetíveis a mudanças”, é nítido que o adaptar-se
é de extremo valor para a sobrevivência, e não entenda com isso a sobrevivência
da Idade da Pedra, onde atrás de cada árvore ou rocha uma fera espreitava a
espera de alimento, o hoje exige que lancemos mão do nosso poder de mudança,
não existem mais feras escondidas no escuro, não as que imaginamos, elas são
agora mais sutis e arrisco dizer, mais mortais até.
O
mundo está tão acelerado que não há mais tempo a perder, o que é novo agora já
será velharia amanhã. Não há mais tempo para compreender as coisas e
percebê-las em detalhes, somos atropelados por informações e mais informações o
tempo inteiro e só conseguimos vislumbrar cada uma de forma ligeira e pouco
precisa. Quando enfim estamos nos acostumado a uma nova forma de fazer ou
manusear algo, e ficamos felizes com isso, vem uma nova forma de fazer e
manusear e pronto! Estamos atrasados novamente. Esta vida exige que mudemos o
tempo todo. Mas, e se eu não quiser mudar? E se eu não conseguir mudar?
Voltando
ao início desta conversa, eu entendo o valor da adaptação e do quão importante
ela foi para a perpetuação do homem, mas algo me incomoda nisso, será que
estamos respeitando a nossa forma, o nosso “jeito de ser”? Acredito que não.
Como dito anteriormente, nosso tempo não exige que enfrentemos uma fera no
mato, mas existem outras feras a serem vencidas como o desejo de aceitação, o
sucesso financeiro e pessoal. Não há mais espaço para o fracasso, errar tem se
tornado um “crime” inafiançável, punido com a descrença e isolamento. Quando um
erro é cometido perde-se tempo com isso e tempo é dinheiro.
Buscando
desviar dos equívocos e viver dentro dos padrões enaltecidos e adorados de
hoje, temos cada vez mais aberto mão de nós mesmos, de quem realmente somos
para ser quem as pessoas esperam que sejamos. Cada característica, cada detalhe
que lutamos para mudar em nós é um pedacinho arrancado. Vamos nos despedaçando
e nos moldando de acordo com o que é bem visto pelos outros, isso não é viver
para si!
Entendo
que certas mudanças são necessárias para o nosso bem e de nossa comunidade, sem
essas regras de convivência nós não seríamos diferentes de animais selvagens,
além disso algumas modificações estéticas são divertidas, como mudar a cor e o
tamanho do cabelo. O que me preocupa são as mudanças internas que tantas vezes
fazemos, e vamos mudando tanto que deixamos de ser nós mesmos, perdemos nossa
essência e abrimos mão de nós pelo outro. Isso sim é sério. Vamos desfigurando
a nossa alma a fim de torná-la mais aceitável. Buscando novamente um exemplo na
natureza, o tubarão é um animal esplêndido, forte, inteligente e reina soberano
nos mares, mas ele não voa e diferente de nós ele aceita sua condição de peixe
e não de ave. O que seria deles se arriscassem sair do mar para alçar voo.
Parece bobo mas há uma riqueza nisso, mudar é importante, mas aceitar-se é
essencial.
Gabriella
Camargo.
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